03 dezembro 2006

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"pois eu estou aqui.. sou esse ar que você vai respirar.. " (Nando Reis)


eu hoje sou um pobre moço. arrefecendo, se esvaindo. a cada sílaba do que digo, transbordando de ternura, e de um amor tímido, porém gigante; mas tendo que derramar toda a água fora, tudo o que sinto pelas pessoas; na fugacidade delas me perco, me desagrego, me desconstruo. causa-me profunda infelicidade perceber que não se pode sentir, que não se pode deixar-se sentir. será que é pecado fazê-lo (o sentir)? ousá-lo (o sentir)? será que é pecado deixá-lo (o sentir) passear pela pele, pela alma, por todas as possibilidades de estar feliz quando se está com alguém? há algo de errado nisso? não quero apenas minutos, ou algumas simples horas de trocas de beijos e carícias, conseqüências de apenas “um clima”. não quero ter que sempre ouvir isso. o mesmo discurso vazio de sentido, efêmero. não quero que sejamos atores de histórias fugazes, de relações descartáveis. queria que o término de um dia não fosse, simplesmente, o fim das coisas. queria que os pálidos sorrisos de mera simpatia não fossem apenas inevitável opção de reencontro forçado, quando, na realidade, o reencontro deveria ser sempre um recomeço de tudo, uma nova busca pelo outro, e não uma premeditada distância, por medo, por egoísmo, por incapacidade de amor, por racionalidade exacerbada. não queria ter que desencontrar os olhos, fingir solidez, frieza, austeridade.. e eu pergunto: qual o erro que existe em estar-se pleno e deixar-se sentir? será que há algo de errado em demonstrar o que se quer, se sente, se deseja e se tem vontade? por que coisas tão puras, tão simples, tão belas, devem ser omitidas, como forma de demonstrar uma falsa segurança, apenas por uma artimanha como parte de um jogo estúpido, idiota, que não diz respeito a nada do que eu procuro? por que as pessoas se escondem atrás de um muro instransponível de insensibilidade? quero, sim, sentir, encantar-me, apaixonar-me, amar, desejar, isso tudo sem medidas e sem medo de dizê-lo, de mostrá-lo ou fazê-lo, e sem ter que me adequar a jogos. quero poder abraçar.


o que há de errado comigo? estou cansado de sempre ter que ser saboreado como um deleite de um dia qualquer, tão mundano e efêmero. não quero ter que mendigar atenção, mas não quero também ter que mostrar uma força viril apenas para impressionar ou mostrar-me dono de uma situação. que danem-se todas essas regras. não quero banalizar isso. não quero banalizar esse jogo medíocre da mera conquista estimulada pela agitação dos ferormônios por um patético acaso da sorte ou pela possibilidade de ter que “me dar bem hoje, pelo menos hoje”. sinto uma revolta (e uma decepção enorme) em ver o quanto temos que aprender a nos adestrar, a nos adequar a isso. eu não me acostumo com essas regras espúrias desse jogo. e isso é um jogo? pois, no jogo, para um ganhar, outro deve perder. isso é justo? é justo ter perdedores? é justo cada ostentar para si mesmo tamanha vaidade de, no jogo da conquista, ter sempre que se sair bem? quanta tristeza há nisso. quantos corações se machucam quando seria muito mais fácil deixar-se tocar o rosto, tocar a alma. minha doçura se esfacela, perde o fôlego, não mais se sustenta. ela é, para grande maioria dos jogadores, uma idiotice sem cabimento, uma empolgação desmedida e insensata. se sou insensato por sentir plenamente (pois só assim acredito que a vida vale a pena) e dar-me o direito de viver isso, de me entregar como ser humano que sou, que essa minha insensatez faça sempre parte do cardápio de todo o dia, que seja saboroso, que agrade ao paladar de quem quiser, junto comigo, também se lambuzar do mel da vida, de arriscar-se, de se jogar afoitamente na tara do amor, da paixão, dos encantamentos, dos afetos. pois tudo isso é vida, é amor, é paixão, é encantamento, é afeto, não apenas um jogo. isso é vida.

ando vivendo emoções demais ao mesmo tempo. desculpem-me.

Um comentário:

Anônimo disse...

Se disser que me elevo a outro plano, fico sem reação e entro em cartase ao lê o que você escreve, serei redundante?
Se disser que, também, ando vivendo emoções demais ao mesmo tempo e que os sentimentos borbulham a ponto de ultrapassar as barreiras do corpo e se penetram na mais delicada criatura que há, estarei lhe plagiando?


Adrielle