30 julho 2006

ET.. telefone.. minha casa..




Mamãe, me acuda!!! Eu fui pra outro planeta!!!

Às vezes, é necessário freqüentar outros ares, aos quais não estamos comumente acostumados. Mesmo quando se sabe muito bem que esses tais ares entram com um pouco de dificuldade em vossos pulmões, ou quando eles estão demasiadamente poluídos, impregnados de substâncias maléficas aos seus brônquios. Essa experiência pode tomar várias conotações, dependendo da capacidade de adaptação física, psicológica e emocional que a pessoa tenha. Pode ser doloroso, ou não. Mas é preciso, antes de tudo, ter ousadia para lançar-se a tal intento. Além disso, ter um mínimo de rebeldia contra si mesmo e contra todos os seus ranços, bloqueios e ojerizas. E eu ousei. Na última sexta-feira (28/07) estive no BAR DA KELLY!!!

Aquilo era um outro planeta. Sabe outra atmosfera? Pois é.. todos os gases que compunham aquele ambiente (nitrogênios, oxigênios, hidrogênios e tantos outros).. todos eles tinham uma outra densidade, textura, peso e intenção pra mim. E eu era um extraterrestre, vindo de um outro planeta (chamado BIGODE, que habitava a mesma galáxia de seres estranhos, a UFPE) a bordo de um minúsculo OVNI e pousando naquele ambiente ainda inexplorado pela minha curiosidade tão permissiva (utilizo esse nome não no sentido pejorativo ao que se costuma usar comumente).

Em primeiro lugar, é preciso dizer que aquele planeta é composto por dois universos paralelos: 1) o lado de fora; 2) o lado de dentro. Cada qual com sua idiossincrasia visual, comportamental e musical (vale ressaltar).

O lado de fora me causou um estranhamento maior. Era exatamente aquilo tudo que eu não estava acostumado a ser ou a viver. Eu olhava para os lados constantemente, com um riso nervoso, de graça e de incômodo. A atmosfera era avermelhada, cheirava principalmente a ferormônios caóticos e descontrolados, libido exacerbada e a um exibicionismo sem senso de ridículo. Os machos, no cio, tirando suas camisas, rebolando de forma, no mínimo, risível, com um sorriso tarado estampado na cara, abrindo a mala de seus carros e colocando um som ensurdecedor (que “tentava” competir com o som do lado de dentro). No repertório dos carros, músicas como: “pi-ri-ri-pom-pom..” ou “põe, põe, põe..” e “eu vou te dar de mamar, mamar, mamar..”. Esse seria um ritual primitivo de introdução à tentativa de se conseguir algum acasalamento naquela noite. Esse clima era confortavelmente esquentado pelo calor e cheiro dos espetinhos que incensavam, praticamente, todo o ambiente. As moças, quando não loiras, uma tentativa delas (em estética e atitude), tinham um ar esnobe. Mas aquele ar esnobe de quem procura aquilo mesmo, mas que precisa esnobar pra sentir-se ainda mais cotada na bolsa de valores que se instala por ali. Em seus saltos imensos (ou, por vezes, plataformas), acreditavam atingir uma altura psicológica muito maior do que a física, e se sentiam poderosas por isso. Bastava olhar pra carinha de “anjo” delas.

Pra se chegar ao outro universo (o lado de dentro) era necessário contribuir com o módico preço de R$ 3,00 (destinado ao sustento daqueles que faziam a festa acontecer nesse outro ambiente). Meu amigo João pagou por mim (tô te devendo, João). Mas ele só pagou porque eu ainda titubeava muito em atravessar o portal da outra dimensão. Mas vamos lá.. eis que eu entro. E o ambiente me é muito mais ameno. A música é forró. E não era nada de “lapada na rachada” ou gênero semelhante. Era forró daqueles mesmo, com zabumba, triângulo, sanfona. O comportamento das pessoas é muito mais de apreciação do som que rola, da celebração da dança, da convivência em tribo, da degustação das bebidas. Claro que há uma procura pelo sexo oposto (isso é inegável), mas senti que lá o comportamento diz respeito muito mais a flerte do que a “pegação”. Ali, estão desenhados tipos diferentes; é tudo muito mais heterogêneo do que do lado de fora. E senti um acolhimento muito maior. O clima de exibicionismo se dilui num ambiente mais simpático. Alguns parasitas do ambiente anterior ainda chegam a verminar no lado de dentro, mas não são tantos assim. O ritual é diferente, o comportamento é diferente, o som é diferente. E não me doeu tanto. Aliás, até gostei. Se não fosse a acolhida generosa de minha amiga Lívia e a companhia de meu amigo João, não conseguiria ficar à vontade.

Além de João (visitante de um outro planeta, como eu, só que mais aberto a essas experiências) e Lívia (uma típica nativa e nossa bela anfitriã do lado de dentro) só tive contato com apenas uma pessoa de lá de dentro (além do cidadão que me vendia as cervejas): uma moça chamada Amanda. Muito do bem, de alma bonita, agradável simpatia e sorriso receptivo. Ela, apesar de não parecer visualmente com uma nativa do lugar (ela usava all star), me acolheu de forma bela no ambiente, e ela fez aquela minha “experiência” valer a pena realmente. Gosto disso.

Mas apesar das aberrações e “não-aberrações” (aos meus olhos) que presenciei nessa sexta à noite, creio ter sido o mais importante de tudo a experiência de tomar contato e viver a diferença. Essa diferença que por vezes nos causa estranhamento, mas que é profundamente necessária para fazer funcionar a “máquina-mundo” em que vivemos. Não sabemos lidar com isso. Fechamos-nos em nosso ambiente, em nossa tribo, em nossas comunidades, de comportamentos, gestos, pensamentos, índoles e filosofias características, às vezes excluindo toda e qualquer possibilidade de tentar saber quem é o outro, o que ele faz, o que ele pensa, veste, ouve. Eu tenho todo o direito de não querer freqüentar esse ou aquele ambiente, mas tenho o dever de ter a consciência e saber aceitar que ele existe e é necessário que exista, pois determinado grupo necessita dele pra se movimentar no mundo. É o espaço de cada um. E eu gostaria muito que esses espaços, diversos e tão díspares entre si, pudessem se intercambiar sem conflitos ou traumas. Basta perder o medo e a resistência em relação ao outro. Deixemos, no mínimo, que esse outro nos tangencie.

E volta o extra-terrestre, contente por explorar campos vastos, para o seu planeta de origem (só não volto naquela bicicleta voadora, pois não sei guiá-la nem no chão, quando mais nos ares..).

Essa postagem é em especial para a freqüentadora mais assídua do meu blog e do Bar da Kelly: minha amiga Lívia Bandeira.

(ouvindo Maria do Sertão - Digital Groove)

27 julho 2006

cauê, luca ou kuará?



Aproveitando o ensejo: em quem você vai votar nas Eleições 2006, hein?

.. pessoas me acalentando a alma profundamente.. sinto felicidades por isso.

19 julho 2006

escravos de [mombo] jó


são escarros, gritos, gemidos, descargas [mentais, elétricas ou mesmo da pública privada], e também [re] fluxos

, sons semelhantes a algo que rodopia dentro das cabeças [e dos labirintos e vestibulares] quando se cheira loló; essas sirenes desmilingüidas que se desprendem do meu inadequado aparelho de pensar raciocionar.

uma inconteste profanação o que fiz com os pobrezinhos "escravos de jó", que não me saíam mais da cabeça depois de tanto brincar com sons, ao lado de Henry [o anjo libertário de explícita rebeldia, pai de gêmeos univitelinos que nascerão entre o mês 10 e o mês 11] e de sua esposa, Cláudia Nascimento; é incrível como uma simples brincadeira que a gente executa [há muito tempo não brincávamos assim] me faz saracotear das entranhas, remexendo de lá, remexendo de cá, uma vontade bem boa de atordoar minha própria concepção estéstica [que, graças a deus, é flexível, mutável, transitória, volátil, uma "metamorfose ambulante"]; Anderson é o ardor pulsante da inspiração que me desassossega, o âmago do ômega.. e me deixa ficar assim:

"escravos de jó

jogavam caxangá

tira, bota, deixa ficar

guerreiros com guerreiros

fazem zigue-zigue-zá"

é uma absurda perversão! com ecos vazando.. o melhor de tudo, aquele barulho surdo, caótico, que vai embora, lá longe.. mas não dá pra pegar, pois já se desfez, como vapor.. faz tempo que não faço uma ruminância tão bem feita [bem feita no sentido de me alimentar bem]; essa deglutição, que até me pareceu bem estranha aos ouvidos, parece ter agradado aos outros [todos ruminaram juntos comigo, em forma de prazer estético].

e que coisa bonita eu lia, quando me queixava do meu descuido na equalização do meu recém-reprocessado artefato sonoro [resultado de vozes, elas em baixas oitavas, violão, estalos de dedo e palmas].. era Isadora que me dizia [via MSN]:


"pin up¿ diz:
tem problema não

pin up¿ diz:
eu não sou equalizada"

bem.. já divaguei demais.. que deixemos os escravos de jó, pois acabou de começar o jô..

e eu sentindo liberdade na ponta dos dedos..

16 julho 2006

uma água cercada de terra por todos os lados

Experienciar as sensações, todas elas, convergindo em mim, perambulando, trafegando, remexendo, encantando tudo ao meu redor e também me dilacerando, esmigalhando toda as minhas possibilidades de ver felicidade na vida. Talvez seja esse o meu defeito; ou talvez não, talvez não seja um defeito, apenas uma forma peculiar (e bota peculiar nisso) de sentir o mundo, as pessoas, os sentimentos. Eu me permito viver tudo, da forma mais plena e visceral, apaixonada, “sem economias” (como me disse uma vez Fernanda Santos, num depoimento pra mim, no orkut).

É essa minha relação passional com o mundo que acaba encantando algumas pessoas, fazendo outras temerem pela minha integridade emocional, e outras até se assustarem com isso. Na opinião dessas duas últimas eu me entrego demais, eu me apego fácil, eu vivo tudo de forma muitíssimo exacerbada, o que causa certo estranhamento. Eu já vejo de outra forma: acho que as pessoas é que vivem de menos, sentem de menos, se apaixonam de menos. Eu apenas vivo na medida e no limite que a vida me dá como brechas; se isso é um erro, eu sou o cara mais errado do mundo.

Eu amo, amo demais, tudo e mais um pouco. E sei que no mundo em que vivemos hoje, cada vez mais desumanizado, frio, individualista, onde as pessoas têm medo e relutância em SENTIR, esse meu comportamento é, no mínimo, kamikaze. E eu me apaixono por um toque, um olhar, uma palavra, um cheiro, uma essência, uma energia, um abraço, um beijo.. enfim, eu me apaixono por tudo que possa me provocar sensações carnais, espirituais, afetivas, etc. E é nesse ponto que vejo o quanto a efemeridade das coisas, a fugacidade tão agressivamente volátil delas se revela por inteiro, nessas experiências com os outros, ditos “seres humanos”, nessas relações interpessoais, nesse vazio de sensações e na total indiferença que se manifestava no segundo seguinte ao do amor.

Muitas dessas moças que passaram pela minha vida despertaram coisas bonitas, agradáveis, interessantes (cada uma delas sabe muito bem seu valor na minha vida). Só que, geralmente, não passava de um ou dois encontros.. o comportamento refratário vinha logo em seguida, aliado a uma frieza, evitando-me, fugindo de mim.. E a tristeza, desordeira, se instalava por completo, por eu sentir que não fui capaz de despertar beleza nelas, as moças. Ultimamente, tenho me incomodado profundamente com isso.. com essa inconstâncias e com a velocidade com que essas relações são descartáveis e fenecem, se diluem, pulverizadas, num simples "tchau", num desencontro de almas.. meu corpo, minha alma e meu coração andam se cansando dessa repulsa em querer viver que há nas outras pessoas, ou da “não-doação” às possibilidades de sentir que elas poderiam me dar, para que eu mostrasse o quanto seres humanos lindos querem/precisam viver em harmonia, amando, na poesia do abraço, do beijo, do sexo e de um amor absurdamente belo. Será que eu estou errado? E mesmo que eu esteja, sou teimoso, insisto e acredito que ainda há muito de ser humano nessas pessoas que eu freqüento/freqüentei/freqüentarei. Ainda acredito muito que vou provar um pouco do sabor de felicidade nessas relações passionais. Não quero perder minha capacidade de sentir o lúdico nas coisas da vida. Esse lúdico que tanto tem me acariciado como também me atormentado, quando percebo que converso com pessoas o dia inteiro, sobre os mais diversos assuntos, e no final das contas sou eu, na multidão de prazeres e regozijos efêmeros, buscando essência onde só restam ossos e ferrugem.

Essa postagem é para todas as mulheres que passaram pela minha vida, e para todas que ainda virão.

aahhh, se ela soubesse que eu estou aqui, por inteiro.

12 julho 2006

a totalidade veio do nada




Essa é uma interessante frase que li numa das tantas magníficas elucubrações do compositor baiano Tom Zé, em seu livro Tropicalista Lenta Luta. Leiam. E ouçam Tom Zé também.

...

Ela me disse que ficou feliz ao falar comigo. Eu, em devaneios mil, fico feliz e fico triste, sem saber se isso é bom ou ruim. eu quero lê-la, por dentro e por fora.. saber se sou verso que se encontra lá, por dentro.


...

Olívia nasceu! Boas vindas a ela.. Filha de uma linda cabocla, chamada Priscila, a pequena menina (que eu tive a honra de escolher o nome.. ATENÇÃO: eu não sou pai) veio ao mundo e deu seu primeiro berro de vida no dia 10 de julho. É uma das coisas mais lindas do mundo você observar um bebê dormindo. Ela, bocejando, mexendo as mãozinhas, de olhos fechados, e, vez por outra, tentando abri-los. Desejo a ela boa sorte quando abrir os olhos, pois ela passará a ver um mundo que não anda muito bem das pernas. Desejo a ela muita poesia na vida.

Falando em poesia, essa é recém-nascida (como Olívia). Ganhou forma há poucos minutos:


SER O QUE SE CRIA

seria necessário
alinhavar-se
nos gestos
e a cada disfunção do cotidiano
, que lhe era possível
internalizar;

assim como rir de cada besta fera,
cuidadosamente recolocada
nas mesmas reentrâncias
do seu mesmo sorriso frio
, entreaberto
levando poeira,
e engolindo as palavras a seco,
ressequindo a cada dia;

era uma volúpia inexplicável,
era uma angústia infinda,
eram cálculos binários
& dízimas sem rimas,
mas no final das contas
, e no fim de tudo,
tudo era poesia.

10 julho 2006



Sabe aquela caixinha onde você guarda de tudo um pouco? Nela, inúteis velharias recolhidas pela vida, mas que, de certa forma, possuem algum valor sentimental. Também guardamos nessa caixinha várias cartas e mimos importantes de amigos, lembranças que nos deixaram; assim como escondemos alguns de nossos poemas mais secretos, ou coisas que, comumente, não gostamos que os outro vejam. É nessa “caixinha de coisas” que guardamos uma grande parcela do que somos - e que sabemos que somos -, mas a ela poucos (ou ninguém) têm acesso.

Pois bem, essa é a minha caixinha de coisas, que estou abrindo nesse momento, pra que sirva de objeto de voyeurismo a quem interessar possa. Há muito pensava em dar vazão ao pedaço de mim que timidamente se revela (só, de vez em quando, para alguns poucos). Então, encontrei a resposta: vou fazer um blog!!! Aqui, vou procurar compartilhar minhas impressões do mundo, meus vícios, minhas poesias, minhas sacanagens; vou falar de coisas que me parecem de grande relevância, como também falarei de coisas extremamente inúteis, bobas e dispensáveis. Afinal, é o meu espaço, faço dele o que quero. Aprecia (ou não) quem quiser. Atenção: QUALQUER TIPO DE ASSUNTO poderá figurar por aqui, desde música, poesia, cinema, sexo, política, até mesmo uma queixa, uma confissão minha, um comentário besta qualquer, uma ralhação, e por aí vai. Dicas de coisas que li, vi e ouvi também podem dar o ar de sua graça, assim como os próprios textos que eu ler e as músicas que me tocarem por aí e achar interessante compartilhar. Como diria Caetano Veloso: “Deus está solto!!!” Preparem-se para a balbúrdia geral.

Não sei exatamente qual a periodicidade das atualizações deste blog. Mas tentarei, no mínimo, postar uma vez por semana. Se eu estiver muito compulsivo, talvez faça atualizações praticamente todos os dias. Isso vai depender da minha disposição, inspiração, tempo e paciência com meu lerdo computador.

Também espero seus comentários e críticas. Por favor, críticas construtivas. A minha caixinha de coisas está aberta, podem fuçar o quanto quiserem. Quem sabe, encontrarão algo interessante (e muito de desinteressante). Sejam bem vindos!!!