31 outubro 2006

Aonde estão as flores da sua cabeça?


Esse título (apesar do pequeno equívoco, pois o correto seria “onde”.. mas vá lá.. licença poética pra tudo nesse mundo) é de uma música chamada As Flores, composição de Ortinho e Lula Côrtes (dois doidões de plantão), que está no disco Somos, do Ortinho. Ela embelezou minha madrugada de ontem/hoje ao chegar do jantar da casa de Filipe BB (o moço “verbete-mamute”).

Eu já tinha ouvido a canção certa vez no Abril Pro Rock do ano passado, numa versão bem rock’n’roll, cantada por Daniel Belleza & os Corações em Fúria (uma das pouquíssimas bandas que me agrada em relação ao rock brasileiro de hoje em dia), com participação do supracitado Ortinho, num modelito impagável e numa performance bárbara. Quem viu, viu. Aliás, essa música também foi gravada pelo próprio Daniel Belleza.

Essa versão cantada por Ortinho é suave (apesar da aspereza da voz do cidadão), repleta de uma lúdica sensação, tão poética como um belíssimo arranjo de flores sobre sua mesa (ou mesmo sobre sua cabeça). Um arranjo simples (e por isso bastante bonito), com violão, bandolim, flauta, etc e tal. Apesar de a letra parecer denotar uma aparente tristeza, me parece bem viva, de natureza sutil e sorridente. Portanto, peço a todos que nunca esqueçam, por favor, de regar as tão belas flores de suas cabeças.

Quem quiser baixar a música, clica nesse link aqui: http://rapidshare.com/files/1464291/08._Ortinho_-_As_Flores.mp3.html

(instruções: ao abrir a janela, desça um pouco a tela, clique em "Free" - que estará no canto inferior direito de uma tabela - , depois que abrir outra janela, começará uma contagem regressiva; ao término dessa contagem, aparecerá um código de três caracteres, para confirmar o download. É só digitar o código, e mandar ver; escolher o lugar pra salvar a música e pronto. Basta aguardar a conclusão do download).

Aí vai a letra:

AS FLORES
Ortinho/Lula Côrtes

Aonde estão as flores
Da sua cabeça?

Murcharam, secaram
Só restaram os caules e espinhos
Ressecados de tristeza

Estão em qualquer vaso
Jogado, rachado, quebrado
Enfeitando qualquer mesa

Estão nos arranjos
Mandados, estão estampadas
Na blusa que você me deu

E lá permanecem bem vivas
E tão coloridas
Só que você esqueceu

...

A 85% de sexo. Lascívia. Tesão. Libido. Vontade. Desejo. Paixão.

Ando explodindo muito de tudo isso. Por quem? (alguém pode perguntar, creio eu). E respondo: apenas pela vida (se é que alguém esperava por uma resposta menos abstrata). Ouvindo a música supracitada e me vendo hoje em dia (no meio de um turbilhão de emoções, sensações, mudanças) é como se eu quisesse ver todas essas flores, com uma vontade intensa de tocá-las, todas, cheirá-las, espalhá-las pelas ruas e costurá-las em todas as minha roupas. As flores de hoje em dia estão secando (queixa antiga minha). Eu não caibo mais em mim. Sentir demais pode se tornar perigoso. E na impossibilidade de atingir um grau de emoção tão intenso o quanto desejo (por “n” fatores “humanos”), passo a aderir ao freqüente entorpecimento (via substâncias insólitas). Isso às vezes chega a me dar ápices e picos de sensações magníficas, como ver, cheirar, sentir e ouvir tudo muito mais amplo e mais próximo a (ou dentro de) mim. Vontade de abraçar o mundo.

Nas duas últimas semanas isso foi bem intenso. Tanto que o organismo pediu arrego algumas vezes. Mas na última sexta foi muito bom, interessante (apesar do início de uma sensação fortemente depressiva no dia seguinte). Um show de Nando Reis, resolvido de última hora (e que sempre acho fantástico, muito alto astral), e em boas companhias: meu primo Fábio (que também resolveu ir nos 45 minutos do 2.º tempo), Luciana (muito lindo vê-la) e Carol Alvim (ambas ex-companheiras de faculdade). Depois dos shows, ida ao Garagem (reduto “pseudo-cóco-punk-indie-chic” de Recife). E vendo mais gente por lá: Juliano Muta, Júnior Aguiar (depois de ver essa duas figuras, eu creio piamente que a arte e a beleza da arte estão impregnadas e espalhadas por todos os cantos dessa cidade, até mesmo no Garagem, purificando-o de visceralidade, pois isso é preciso).

POR FALAR NISSO: Quero aqui fazer uma campanha para localizar uma pessoa. Durante o intervalo dos shows de Nando Reis e Cheiro de Amor (nem me crucifiquem os “intelectuóides”.. hahahahaha.. até porque eu já estava tão louco nesse show que nem prestei atenção.. só lembro que tinha muita gente tocando no palco..).. mas voltando: no intervalo entre esses shows, surgiu uma moça que veio me cumprimentar por este blog que vocês estão a ler nesse momento. Ela me falou que descobriu o blog por intermédio de alguém que eu conheço (mas não lembro o nome da pessoa que ela falou). Ela elogiou e tal (Luciana até brincou comigo, disse que era uma “fã” minha e tal). Gostaria muito de localizar essa cidadã, para poder trocar idéias (não me levem a mal, por favor.. ando precisando entrar em contato com os seres humanos, com mais deles..). Então, se a própria estiver lendo isso aqui, se identifique, deixe algum contato (me perdoa, moça.. eu estava tão louco que nem lembro o nome nem nada.. ).. ou se alguém tiver conhecimento de quem ela é, me avisa.

DETALHE: Continuarei essa campanha de busca a cada post meu ou até que eu me canse de fazê-lo.. hahahahahahaha..

E eu continuo a perguntar: Aonde estão as flores de vossas cabeças?

(ouvindo As Flores, by Ortinho).

27 outubro 2006

A Banda Tropicalista do Duprat

"porque é made, made, made.. made in brazil" (Tom Zé)

a banda era boa
com duprat na batuta
; que tropicália era essa?
eram hippies orquestrações
& intermezzos
dissonâncias “pop-cretas”
e antropofágicas disjunções
de um Brasil semi-analfabeto
, ingenuamente cosmopolita
& mais que tudo isso:
era subverter-se em notas, acordes
rock’n’bossa’n’roll e baiões,
frevos na ponta dos dedos
e toda aquela parafernália
que se chamava
aquela banda
de beatles e de pifes
de cacos e "descanções"
da menina ruiva (os meninos de mutações),
à black power
do magricelo
ao tabaréu
e também do pretinho
todos tocavam chiclete com banana
na banda, aquela,
a tropicalista,
sob a batuta
do duprat.

(eu quero bem mais peidos alucinógenos)


Texto em homenagem ao maestro tropicalista, Rogério Duprat, falecido ontem (26/10), em São Paulo, aos 74 anos.


Matéria da UOL a respeito do falecimentro de Duprat:

Morreu por volta das 17h desta quinta-feira (26), em São Paulo, o maestro Rogério Duprat. O músico de 74 anos estava internado desde o dia 10 de outubro no hospital Premier, na zona sul de São Paulo, onde recebia cuidados paliativos.

Duprat sofria do mal de Alzheimer e também tinha câncer na bexiga, que nos últimos dias acabou causando insuficiência renal, de acordo com a médica Maria Goretti Maciel, diretora clínica do hospital.

O maestro será velado no Museu da Imagem e do Som (MIS), na região dos Jardins. Seu corpo será cremado na sexta-feira no crematório da Vila Alpina, zona leste de São Paulo.

Duprat é conhecido principalmente por seu trabalho nas orquestrações do disco Tropicália, de 1968, que contava com nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa, Os Mutantes e Nara Leão.

Nascido no Rio de Janeiro em 1932, Duprat mudou-se para São Paulo em 1955. Ainda jovem estudou violão e cavaquinho além de tocar gaita. Mais tarde entrou no meio erudito e foi um dos fundadores da Orquestra de Câmara de São Paulo. Nos anos 60, o maestro se aproximou de artistas populares, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, para quem compôs o arranjo da música "Domingo no Parque".

Também trabalhou com nomes como Chico Buarque e Jorge Ben Jor, mas uma de suas parcerias mais conhecidas foi com a banda Os Mutantes, para quem arranjou diversos discos.

Depois de um período longe da música, devido a problemas de audição, o maestro voltou a trabalhar com arranjos na década de 90.

Música Nova

Ideólogo responsável por um dos poucos manifestos musicais autênticos realizados na América Latina, Rogério Duprat utilizou métodos radicais para criar uma nova frente cultural no país. O movimento batizado como "Música Nova Brasileira" resgatava os ideais da Semana de Arte Moderna de 1922 e pretendia "internacionalizar a vanguarda brasileira". Duprat vinha acompanhado pelos músicos intelectuais Gilberto Mendes, Júlio Medaglia, Régis Duprat, Damiano Cozzella e Sandino Hohagen.

"Sem forma revolucionária não há arte revolucionária" é a citação que termina o manifesto publicado em 1963. Desde então eles se empenharam em quebrar as amarras acadêmicas na cultura e unir o erudito ao popular, como Duprat fez durante sua vida, o que fez dele um dos principais personagens da MPB.

(ouvindo Canção para Inglês ver/Chiquita Bacana, by A Banda Tropicalista do Duprat, com Os Mutantes)

23 outubro 2006

Quanto amor... quanta dor...

"deixe-me dizer, com o risco de parecer ridículo, que todo revolucionário é movido por grandes sentimentos de amor " (Che Guevara)

Apaixono-me pelo que há lá dentro das pessoas...
Pela menor partícula de coisas lindas que nelas possam habitar...
Pela sutil camada de beleza delas (mesmo que tragada, esquartejada, jogada às traças, pelos seu próprios possuidores, por medo, indecisão, defesa ou mesmo desamor)...
Pelas suas palavras, pelos seus gestos, que fazem voltas, giram, rodopiam,
Desenham no vento, exalam perfumes, me absorvem
Apaixono-me pelas pessoas de forma a querer tudo e mais um pouco
Não me contentando com migalhas, com pequeníssimas coisículas
Seus sorrisos me seduzem, abraços e toques me deixam em pleno êxtase
Vivas! Vivas! Vivas!
Tudo assim, pipocando dentro do peito, latejando, ardendo
Queimando, se espalhando, da cabeça aos pés, do corpo à alma
E não precisa de muito tempo... o estalo é repentino...
Chega, se instala e se debate, de inquietude e ansiedade
Em mim é certeiro, violento, agressivo, visceral
Toma-me de rompantes, de poesia querendo se lançar, se jogar,
Sem medir conseqüências, querendo apenas externar-se
Desejo profundo, íntimo, terno, amoroso
Pra mim, é tudo muito normal
Mas o mundo está se esvaziando disso
Perdendo a respiração, o fôlego, não inflama mais
As pessoas estão ficando em preto-e-branco-e-cinza
E o vazio vai tomando forma
Forma de absolutamente tudo, preenchido por uma imensidão de nada
Fui aprendendo aos poucos, aos pouquinhos...
Fui sendo catequizado, devagarzinho, a habitar nesse mundo de sentimentos pequeninos
De gente miúda, que não rima, que não se destina, que se enche de empáfia
Que age agressivamente com a vida, que não ama, que não vê em nada a poesia
Parte de uma funcionalidade anestésica,
Que só tem como função primordial manter o ritmo da máquina
A máquina fria, objetiva, incisiva, pragmática
Eu quero mais é me arriscar, é a vida inteira,
Lambuzar-me completamente do seu mel, e do seu féu
Intervir em suas possibilidades, coexistir em todas elas
Só assim a vida vale a pena
Porém, sinto-me vítima de um certo deslocamento temporal da sensibilidade que trago em mim, na sua relação com os outros
Essa minha urgência em viver, essa minha vontade de tê-la por inteiro, a vida
Acaba me colocando em desaviso a respeito das malícias humanas,
Mesmo das malícias naturais, ingênuas, involuntárias
Mas, mesmo assim, malícias
Dessas que te deixam só, chorando ao ir dormir,
Encharcando o travesseiro...
O tanto que isso já me foi comum,
Amargor sem fim, que vai possuindo a alma, o coração
E mesmo tendo como vontade imperativa o amar,
O “desamar”, o desrespeito à condição humana desfere golpes violentos
Consolida marcas, cicatrizes horrendas,
E vai corroendo devagarzinho cada milímetro do que ainda resiste
Como forma essencial de amor...
O mundo está se esvaziando,
as pessoas também
E isso dói.

11 outubro 2006

Parabéns, voinho!!!


“veja que beleza, em diversas cores.. veja que beleza.. em vários sabores, a burrice está na mesa (...)” (Tom Zé)

Tropicalista cuca boa e nova!!!

Salves, salves, salves!!!

Começamos hoje uma quarta-feira muito mais feliz, muito mais interessante para a música brasileira. Hoje, 11 de outubro, é aniversário de 70 anos de Antônio José Santana Martins, ou Tom Zé, como é conhecido no Brasil desde 1968, quando lançou-se de vez no mercado fonográfico brasileiro.

Confesso-me estar um pouco tenso ao escrever alguma coisa sobre este cidadão, uma das maiores (se não a maior) referência musical de criatividade, singularidade, genialidade, inventividade, irreverência, rebeldia e outros adjetivos mais que temos no Brasil. É uma responsabilidade muito grande, e creio também ser muito complexo, conseguir definir da forma mais adequada este baiano de Irará, que conseguiu transformar rapadura, farinha, seca e agrura em matéria-prima substanciosa para uma das músicas mais cosmopolitas e inteligentes de que se tem conhecimento hoje em dia.

Não é todo o dia que um senhor de 70 anos faz uma participação no novo CD do grupo Cake, ou já fez um show com o grupo Tortoise.

Tom Zé foi um dos alicerces fundamentais para o surgimento da Tropicália. Porém, foi ele o mais outsider do grupo. Porém, não no sentido de estar por fora, e sim de estar correndo por fora, por ser ele dotado de uma singularidade tamanha que chegou a ser (e ainda o é) o mais tropicalista de todos, no cerne da rebeldia que aquilo poderia significar, e o menos tropicalista deles, pois optou por seguir o sentido contrário da corrente, que era o da popularização/massificação e facilidade totais; ele seguiu um caminho não percorrido, tornando-se uma bela e inspirada aberração construída e edificada dentro das próprias deficiências (como ele próprio define), transformando-as em grandes idéias, em grandes obras, capazes de sair das amarras de qualquer convenção, conceito e definição, conservando ao longo de todos esses 70 anos um vigor infantil, uma rebeldia adolescente (sempre indignação) e uma sabedoria que a idade e a experiência de vida lhe puderam conferir.

Tom Zé disse que sua primeira experiência musical foi ao tentar tocar violão e cantar para uma moça, ainda em Irará, na juventude. Disse que foi traumatizante. Um bloqueio, uma travação o deixaram totalmente inerte, apático, entalado. Nunca teve beleza, talento para tocar ou voz bonita para ser consagrado como um grande cantor, daqueles que encantam belas moças. Foi daí que partiu para seguir o caminho de desconstruir-se e utilizar com destreza, vontade, inteligência e sensibilidade tudo o que poderia se tornar um obstáculo para seu progresso, usando a seu favor. E me parece que deu certo.

Estreou para o público brasileiro no IV Festival de MPB da TV Record, em 1968, cantando a música campeã São, São Paulo, meu Amor, de sua autoria.

Daí pra frente fez discos memoráveis, como Todos os Olhos (cuja capa era um ânus, com uma bola de gude introduzida, isso em pleno governo Médici, 1973) e Estudando o Samba, em 1976.

Apesar da inconteste genialidade, da metade dos anos 70 até o final dos anos 80, Tom Zé entra para o ostracismo, longo e doloroso, que duraria 17 anos de esquecimento e tristeza, para um artista que sempre viveu do exercitar de sua mente irrequieta (durante esse período, gravou, em 1986, um disco genialíssimo, chamado Nave Maria).

Foi redescoberto, já desenganado e quase que abandonando de vez o ofício, por David Byrne (ex-Talking Heads). É através do selo Luaka Bop, de David Byrne, que é lançado, em 1990, nos E.U.A., The Best of Tom Zé (ou "Tãn Zi", como é chamado lá), uma coletânea de sua obra. A partir daí passou a ser aclamado pela crítica ianque. Inclusive ganha um prêmio chamado “Prêmio de Criatividade”, em Colorado, do qual participam músicos eruditos e/ou de vanguarda do mundo todo.

No ano seguinte, grava o excelente The Hips of Tradition.

Em 1999, é consagrado pelo público brasileiro (e jovem) no Abril pro Rock, onde ele diz ter nascido novamente.

Em 2001, lança Jogos de Armar. Sempre inovando, traz dois CDs, um contendo as músicas, e o outro com fragmentos das músicas, espalhados, separados, sugerindo ao público que remonte esses pedaços e construa novas músicas, podendo se tornar, assim, um parceiro de Tom Zé.

Em 2002, três anos depois de ter renascido, no mesmo Abril pro Rock ele quase morre, ao ter um infarto após o seu show (eu estava presente nessa apresentação). Tom Zé passou em torno de uma semana internado em Recife, no Hospital Real Português.

Ano passado lançou o fantástico disco Estudando o Pagode – na Opereta Segregamulher e Amor, no qual faz uma interessante analogia entre a segregação cultural e social da mulher e a segregação de ritmos como o pagode.

Hoje, dia do seu aniversário, lança mais um disco (já estou doidinho pra ouvir), que se chama Danç-Êh-Sá – Dança dos Herdeiros do Sacrifício. Pelo que li no JC hoje, mais um trabalho conceitual, baseado na idéia da omissão dos intelectuais diante da política brasileira, da rejeição dos jovens por músicas de letras longas, e estabelecendo um diálogo com o passado e com o folclore. Palavras do "DJ Tão Zé" (como já se pode ver em foto no seu site, entremeado por fios, elementos de discotecagem – como um vinil - e colorido: “Esse disco tem três ou quatro influências. Uma delas foi o silêncio dos intelectuais diante do abismo causado pela decepção com a esquerda política. Outra influência foi uma pesquisa feita pela MTV que mostrou que os jovens não gostam de músicas com letras longas. O dicionário faliu, e as palavras não falam nada. Em função disso, eu decidi fazer um disco cheio de tartamudeios. É uma maneira de tentar chegar até eles. É um jeito de dizer para eles que o mundo é uma coisa de nossa responsabilidade. Peço que eles abandonem essa posição de irresponsabilidade. Ele é ousado, mas dialoga com o passado. Tudo que faço faz referência ao folclore e à música brasileira. Usei nas faixas células e ambientes musicais dos anos 40”.

Isto é Tom Zé. Será que ele chega aos 140?
















(ouvindo Ave Dor Maria, by Tom Zé)

09 outubro 2006

Transfigurações, borogodás & outras idiossincrasias mais.

Eu sou rebelde porque o mundo quis assim. Porque nunca me trataram com amor. E as pessoas se fecharam para mim.. ” (homenagem à minha indumentária da sexta-feira retrasada (29/09) – ver foto estranha abaixo).

Transfigurem todos. Todos merecem. Show de Cordel do Fogo Encantado, realizado na última sexta-feira (06/10), no Clube Português. Fui só. Sozinho. Tomei minhas duas garrafinhas de vinho lá na frente, tranqüilamente. Encontrei o louco do Jairo e o Walter Maymone. Mas acabei me separando deles. Entrei sozinho no show e continuei até o final (não encontrei mais ninguém). Mas acreditem: me diverti muitíssimo!!! Fiquei que nem um louco, sozinho, pulando, vibrando e muito ao som dos moços de Arcoverde, tentando entrar na roda de pogo, levando sopro de uma moça lá. Pessoas.. entendam bem: assistir a um show de Cordel é uma experiência incrível, não só pela banda em si, mas por tudo que você pode observar como sendo resultado da troca de energia entre eles e o público. É uma catarse das mais lindas que existe. E a confirmação de que o poder de hipnose e libertação da alma que o grupo exerce sobre a platéia vai tomando cada vez proporções maiores. Além do que o grupo tem uma energia incrível, seja pela força de sua percussão, seja pela coesão dos seus arranjos, pela dramaticidade cênica e carisma (sorriso infantil e sincero) do vocalista Lirinha. Tudo tem uma força inimaginável, surpreendente. Alma lavada e transfigurada em mil & uma coisas afins.

Mais um dia de diversão neste final de semana. Sábado (07/10) foi dia de Cinema, Praia e Futebol, com Sir. ROSSI e Del Rey. Essa dobradinha de majestades (Reginaldo Rossi e Roberto Carlos, via Silvério Pessoa e Mombojó + China) vem arrebanhando cada vez mais súditos fiéis.

As portas do Mercado Eufrásio Barbosa (onde aconteceu a festa) demoraram a se abrir, provocando um congestionamento de pessoas e respirações na frente do local. Já estava começando a ficar impraticável transitar por ali (ou até nem mesmo transitar, mas apenas ficar parado) tamanha era quantidade de gente que se espremia, na mais autêntica manifestação de “calor humano”.
Abertas as portas, fila. Fila para entrar. Brasileiros dão um jeito de furá-la (ups! Eu fui um deles). Lá dentro, outra fila. Fila para comprar a fichinha para beber cerveja. Brasileiros dão um jeito de chegar na frente, sem passar pelo suplício dessa fila (mais uma vez, Vila Nova está lá). Tudo isso, para conseguir uma cerveja por R$ 0,50 a menos. Ainda consegui sair no lucro. Só que na presença dessa fila brochante, minha noite foi regada a apenas uma cerveja (perdão.. alguns goles mais surgiram no decorrer da noite.. mas foram poucos).

Show de Sir. ROSSI é sempre aquele clima de gréia, diversão e alto astral. Momentos altos: “dizem que o seu coração voa mais que avião, dizem que o seu amor só tem gosto de féu, vai trair o marido em plena lua-de-mel” (desculpa, mas esqueci o nome da música), ou Garçom, ambas com toda a platéia cantando em coro. Além de Leviana, com um convidado, que subiu ao palco e foi cantar junto com a banda. Meu Deeeeus, quem era o convidado? Imaginem só, era Vila Nova!!! Tudo invenção de Yuri Queiroga (quer dizer, Asdrúbal Chué), que me chamou ao palco. Eu imaginei que isso poderia acontecer (ele me alertou antes sobre isso), e, prevenido que sou, levei a letrinha da música, pra cantar lá. Foi um momento cômico, todo mundo riu muito, principalmente o pessoal dos metais, riram com as expressões corporais que elaborei de improviso para a música (detalhe: fiquei cantando escondidinho, lá atrás). Isto feito, recebi um convite de Silvério (ou de Gaiman.. sei lá mais quem era naquele momento) pra ir ao ensaio, cantar a música com eles lá. Será? Será mais uma dobradinha de LUCIANO MAGNO (nome artístico de “cafajeste pop” que inventaram pra mim na hora) e Sir. ROSSI?

Rapaz.. juro a vocês.. Del Rey tocou, tocou, tocou, tocou.. mas eu nem acompanhei.. o aperto era geral, não conseguia respirar direito. Marmanjos de plantão, prestem bem atenção: sempre, sempre, sempre agradeçam aos meninos do Del Rey pela beleza dessas festas. Nunca vi tanta mulher bonita junta. As menininhas descoladas vão todas lá, gritar histericamente ao ver China (com aquela franjinha estranha) rebolar e fazer “miaaaau” em Negro Gato. Interessantíssimo. Novíssimo isso.


............

Eu ando meio fora de sintonia com coisas e pessoas. Passei nos últimos dias por uma fase de me apegar às pequeníssimas coisas, a gestos, a palavras. Um apego emocional, amoroso, sentimental, uma euforia desmedida, um circular invariável e assimétrico de sensações por todos os meus poros e pela minha alma. Às vezes, sensações como essas podem nos encher de ternura, de encantamento. As pessoas nos despertam isso (mesmo sem querer). Mas, ao mesmo tempo, essas sensações podem nos causar um certo desconforto, uma sensação de idiotice, de tristeza e de engano quando nos deparamos com a possibilidade (e o fato concreto) de que era tudo uma simples ilusão, um meter os pés pelas mãos, um arriscar-se na medida mais improvável da distância e da anti-poesia, quando o mundo real nos diz “não”. Eu quero apenas a beleza dessas palavras, desses gestos, das conversas, do afeto, nada a pedir, a não ser isso. E também uma sinceridade do tamanho de tudo. Não pensemos em mais nada além disso, viu?

Um mundo cinza se cristaliza ao meu redor.

03 outubro 2006

Escrevendo em papéis azuis realidades coloridas de uma vida em preto-e-branco

Exatamente agora, depois de uma súbita vontade de escrever, eis que me surge isso aqui (poeminha recém-ousado):

TÃO SIMPLES

taí..
essa vontade, assim do nada,
e muito de repente,
de remexer-te os cabelos
de saber-te as poesias,
as palavras, os sabores
já me deixa tão feliz
contente, de sorriso fácil,
e os lábios..
esses começam a querer catar os teus
em algum lugar por aí..
sabe-se lá onde..
mas quando souber, que felicidade será..
do tamanho onde cabe tudo e mais um pouco
de nós...
e os braços, querendo desdobrar-se em tantos abraços,
querendo ser um sincero enlace de mil espaços
que transitam entre curvas que tecemos pelo ar
e por entre superfícies que, de nós, se interceptam
se acalentam, se percebem, e também se reconhecem
como sendo parte indissociável do que íamos, então, querer;
é um pouco de delicadeza,
e de sábia alegria
que me adocica as sensações
e te pinta com mil cores
desde a pele até a alma,
essa tua, que me invade,
e tão assim, do nada,
és, então, essa vontade
esse desejo que me arde
que me veio de repente,

e que não quer mais ir embora.