em que se insere o acaso?
no ritmo e no afinco da teoria do duro trabalho?
ou na escrita espontânea da livre poesia?
e, assim, os mitos dessa escrita sem inspiração, tão somente mera e mecânica caligrafia,
resistem em sua incólume nobreza,
à pobre e nefasta disritmia dos signos,
da livre ortografia
& da possível, quem diria, não tão bem forjada poesia.
a arte se dilui em sua pouca assimilação,
intacta,
indagada e proferida sem ritos ou profanações;
o imperceptível não possui formato,
e, achado entre escombros, permite-se desmembrar
em cada pensamento e movimento.
; à sua divisão desarticulada
, em que o limitador da palavra se sobrepõe aos seus próprios quereres,
e monta vertigens isoladamente convencionais,
a carta indefinível,
a gráfica inatingível.
o perfeito recurso de persuasão
soma-se à cotidiana simbologia,
adquire a coesão das literárias partituras
e abrevia o tom da rebeldia;
nenhuma renúncia, porém,
& vanguardas incorporam-se à tipografia lenta e mordaz,
comunica-se fragmentariamente e condensa-se ao pôr-do-sol;
substantivada, a fibra se desestabiliza,
interpolada visualmente em suas regentes vanguardas,
capta o discurso lingüístico expandido
e inventa sem explicar.
redigida sem conversão
o novíssimo, menor que é, lhe intui ao prefácio
entreposta, esquartejada sobre suas próprias escalas;
decidir-se pela veemência lhe cansa as vistas
como se a razão do fingir/deglutir fizesse dela menos bela
e, da primeira à última letra, suas rimas se engolem e desvirtuam,
convertidas em suposições obstinadas, porém, sem cifras lógicas;
o diálogo é tão breve que a textura se esconde em seus próprios meandros;
& as entrelinhas, contanto, fazem parte do organismo da poesia
e, pedantemente, são grafadas de inútil forma por serem daninhas
e contaminar todas as letras, sem misericórdia, e sintetizá-las em sua própria língua
[o hábito: dissolução da provável matéria e subversão do seu próprio verbete, sem que as geometrias proverbiais se mostrem inconclusas, dando ao rodapé da última página o gosto e o deleite do iniciar a leitura sem nenhum dano óptico ou espiritual] provocar a estação, onde o abandono ascende à presença da vida e flui sem amarras;
coordenar o som das palavras e juntá-las, sem qualquer harmonia,
a textualização dos pormenores e a inserção dos olhos dos outros ao rever as condutas e etiquetas,
onde se possa constatar que a estrutura da poesia descosturada
é digitar dentro/fora de si próprio
o que as próprias palavras nunca saberão dizer.
19 maio 2008
a estrutura da poesia descosturada
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leonardo vila nova
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Marcadores: leitura, metalinguagem, poesia
25 abril 2007
coração nas nuvens.
Passei algumas semanas ausente da caixinha. Isso se deve ao turbilhão de vida que me atravessou nesses dias de Sol e chuva. O coração anda cheio de ternura. Entre goles de cerveja, sorrisos, brincadeiras, afinidade tamanha, milhares e milhões de sensações, tão belas e acolhedoras, o mundo me foi muito mais intenso e vivo em 24 horas (que se repetiram e vêm se repetindo por mais algumas outras horas e contatos sempre felizes) do que em grande parte de minha vida. Estou formando família nova (leofelmelecéu), com pessoas que me chegaram, me tocaram, me sorriram, me aceitaram, e que me querem assim como eu as quero. Muito, muito, muito intensamente. A sensação de vida foi tão forte, tão densa, que me exauriu um pouquinho. Começo agora a absorver e a entender de forma menos frenética, pouco a pouco, o significado de tudo isso, a beleza que nisso tudo reside. E quando eu digo que o coração está nas nuvens (vide o título de hoje), é porque ele está sim, tomado de assalto, nas nuvens de um céu estrelado do Oriente, tão zen céu, tão bonito. Esse céu me desperta ternura, poesia, alegria e sorrisos. E eu quero voar.
Disponibilizo hoje, para baixar, canção do Devendra Banhart, chamada Owl Eyes. A letra é meio estranha, mas a música em si, a sensação que as harmonias, melodias e a sensibilidade que elas me passam traduzem bem como me sinto. É ouvir e sentir, deixar-se flutuar.
link: http://rapidshare.com/files/27947187/Devendra_Banhart_-_14_-_Owl_Eyes.mp3.html
...
Nas últimas semanas têm rolado as gravações de uma das minhas bandas, Ínsula. Hoje mesmo foi dia. Apesar da correria que foi pra se organizar, com pouquíssimo tempo pra se trabalhar as músicas (pois essas gravações caíram do céu pra nós, porém com prazo curtíssimo pra se cumprir), as músicas estão ficando muito, muito bonitas. Estamos em meio a percussões minhas, vozes e violões do meu fiel companheiro de música, poesia, vida e boemia, Juliano Muta; passeando por trompetes e cavaquinhos de Demóstenes Júnior (ou Macaco, para os chegados) e por uns cellos garbosos e encorpados de Luís Carlos Ribeiro, também nosso companheiro nessa empreitada.
É o processo sensível e intuitivo da alma do artista, que nessa horas se mostra muito, e muito mesmo, arquiteto da sua emoção. A construção de uma música, o encaixe das suas células de forma belamente agradável aos ouvidos e ao coração, requer um minucioso trabalho de observação constantes, de atenção redobrada, mas também de uma intensa entrega às sensações, aos sentidos que cada música lhe causa e por qual caminho ela te guia para seguir. Afinal de contas, é isso que ocorre: não é você quem guia pra onde música vai. É ela quem te conduz, é ela quem te faz deduzir por onde ela própria quer ir.
Hoje, tivemos duas presenças agradáveis e talentosas no estúdio. Gravando conosco, o baterista Lucas Araújo (Parafusa, Dibonton, SambaFino Groove e outros milhares de projetos). Sempre muito inteligente, sagaz e preciso, Lucas foi apresentado às músicas hoje, e hoje mesmo já as gravou, com uma maestria e tranqüilidade dignas de um excelente músico. A outra presença foi de Yuri Pimentel (Comuna), que veio conhecer uma das músicas em que irá participar, tocando baixo. Tenho certeza de que será outra participação impecável.
Têm sido um pouco trabalhoso e cansativo (pelo atropelo do exíguo tempo de que dispomos). Porém, tem sido, sim, de uma satisfação e felicidade que ninguém faz idéia. Já estou bastante ansioso pelo resultado final, mas o processo de gravação em si é magnífico, estimulante. Sentia muita falta disso.
Fiquem ligados: podem aguardar mais notícias sobre a Ínsula, que, em breve, estará dando as caras por aí.
...
A caixinha também é serviço de utilidade pública. E venho aqui fazer uma divulgação mais do que justa de algo que merece E DEVE ter toda a nossa atenção.
O incentivo à leitura é uma das coisas mais válidas e coerentes nos dias de hoje e num país como o Brasil, onde o número de iletrados ainda é imenso. Portanto, divulguemos e também acessemos o site www.dominiopublico.gov.br, disponibilizado pelo Ministério da Educação. Lá, pode se baixar GRATUITAMENTE milhares de obras em livros, nas mais diversas línguas, dos mais diversos autores e das mais diversas searas (filosofia, artes, poesia, política, romances, comunicação, matemática, astronomia, etc). No site, se encontram clássicos (e também os “não-clássicos”) de nomes nacionais e internacionais como Platão, Fernando Pessoa, Marx, Machado de Assis, entre outros, muuuuitos outros.
Além do acervo literário, há também arquivos de áudio, vídeo e software. Tudo disponibilizado, repito, GRATUITAMENTE.
Porém, o site corre o risco de sair do ar, por causa do ínfimo número de acessos. Portanto, tentemos reverter essa situação, divulgando essa maravilhosa fonte de conhecimento para amigos, conhecidos, parentes, colegas (além de também fazermos usufruto dela). Como em nosso país ainda não há o costume de se estimular a buscar pelo saber (que, sem dúvida alguma, é o que realmente amplia a percepção do mundo que nos cerca e nos torna cidadãos muito mais conscientes e atuantes) e nem de se divulgar sites como esse, que fazem a sua parte, disponibilizando tamanho acervo dessa natureza, então que o façamos nós. Passem essa mensagem pra frente, divulguem, acessem. Passando essa informação pra frente já é um grande passo de cidadania que nós estaremos dando.
No mais, boa leitura.
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Cê vem chegando por aí. Caetano Veloso vem chegando por aí. E a fila AE do Teatro Guararapes espera por mim.
(ouvindo Owl Eyes, by Devendra Banhart).
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leonardo vila nova
às
22:02
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