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04 dezembro 2007

tom zé e o funk carioca


O título acima é auto-explicativo.

Em 2005, quando conclui minha monografia, intitulada A Tropicália no século XXI: as reverberações do movimento tropicalista na contemporaneidade, eu afirmava, entre outras coisas, que a Tropicália, ou a sua intervenção estética, as suas atitudes como manifestação artística e cultural encontravam ecos nos tempos atuais a partir, também, do flerte que seus artífices sempre mantiveram com a cultura de massa, com o kitsch, com o tido como de “mal gosto” ou "inferior", e, também, erroneamente, classificado como “subcultura”.

Pois bem.. isso pode muito bem ser comprovado ao longo dos anos, quando, por exemplo, podemos observar Caetano e Gil em intenso e caloroso diálogo artístico com essas tendências tidas como “menores”: Caetano, no festival Phono 73, se apresentou cantando uma música com Odair José, o rei das empregadas, das prostitutas e contra a “pílula”. E também, além de outras coisas, sempre falou abertamente da sua paixão pela axé music, já gravou (no CD Noites do Norte ao vivo) o funk Tapinha não Dói, músicas de Peninha (Sonhos e Sozinho) e de Fernando Mendes (Você não me Ensinou a te Esquecer). O ministro Gilberto Gil já declarou da sua simpatia pela (ex)dupla Sandy e Júnior e já cantou com Ivete Sangalo o refrão “chupa toda”.

E por esses mesmos motivos, ao longo dos anos, muitas vezes eles foram achincalhados pela crítica, por grande parte dos “intelectuais” e até por muitos fãs, sendo atitudes como estas classificadas como grotescas, de “mercenários vendidos” e outros adjetivos não muito gentis. Porém, continuaram prosseguindo com essa prática tipicamente tropicalista, bastante conscientes, fiéis e coerentes às posturas defendidas por eles desde 1967.

Fico feliz em saber que essa minha tese continua firme, consistente e atual. Agora, com outro tropicalista dando mostras de que esse diálogo com a cultura de massa, além de verdadeiro, é assaz inspirador e produtivo.

Descobri ontem um vídeo no youtube em que, numa entrevista, Tom Zé fala da importância do funk carioca (em especial aquele do refrão “tô ficando atoladinha”) para a concepção do seu mais recente disco, o Danç-Êh-Sá – A Dança dos Herdeiros do Sacrifício.

E ele fala dessa importância pra ele com embasamentos teóricos, muitíssimo bem fundamentados tecnicamente, musicalmente falando. Classificando até esse refrão como “microtonal, pluri-semiótico e meta-refrão”. Nossa!!!

Eis o vídeo:



Bem.. já sei muito bem que os “pseudo-pop-cult-intelectuóides” de plantão serão complacentes e permissivos, por se tratar do nosso genial Tom Zé louvando a complexidade musical desse funk. Porém, se fossem Caetano ou Gil a dizer isso, estes seriam estrondosamente vaiados, sem dó nem piedade, quiçá até sem nem direito a se explicar. E sabe por quê? Muito menos pelo fato de esses “pseudo-pop, etc e tal” entenderem de fato a importância dessas palavras de Tom Zé, mas muitíssimo mais pelo fato de que Tom Zé sempre teve um caráter outsider e underground dentro do tropicalismo (entrou até em ostracismo durante anos) e, por isso mesmo, que desde a metade dos anos 90 pra cá que gostar de Tom Zé tornou-se algo cult. Gostar do que pouquíssimos gostam (ou seja, fazer parte de uma reduzida platéia seletiva) é cult.

Pois, então, coloquemos tudo isso no mesmo liquidificador: Peninha, Fernando Mendes, Odair José, o funk carioca, Ivete Sangalo, Tom Zé, Gil, Caetano, Beatles, Banda de Pífanos de Caruaru, música erudita e o que mais der na telha.

Cada ingrediente desses é uma faceta de um Brasil imenso, complexo e contraditório, que avança em idéias, em tecnologia, em cultura, porém ainda preso a moldes arcaicos (seja tradicionalmente, mercadologicamente, religiosamente, moralmente, etc.). E foi esse quadro extremamente conflituoso que a Tropicália escancarou no fim dos anos 60: um Brasil que não era só banquinho, violão, pandeiro e música de protesto. E sim um Brasil que, além disso, era samba, baião, afoxé, rock’n’roll, Chacrinha, Vicente Celestino, Carmen Miranda, carnaval, etc.

Esse tipo de música que se costuma dizer de baixo nível é parte também desse Brasil, mesmo que seja a parte que tentamos evitar, fechar os olhos perante ela. É a periferia, é o morro, a favela, que quando não tem educação, lazer, e por muitas vezes lhe é negada a dignidade, faz música. E essa música é manifestação autêntica dessa cultura existente em nosso território. Quando se diz “tô ficando atoladinha” e os “intelectuóides” se mostram horrorizados com isso, esquecesse-se que muito mais putarias, e mais “horrendas” até, são praticadas por esses mesmos críticos, seja por debaixo dos panos ou não. Uma moral falida, uma concepção cultural ingênua, que não enxerga, por exemplo, que o samba, hoje louvado por tantos, teve seus tempos de “funk” até metade do século XX.

E é justamente esse Brasil (costura de tantos brasis) que a Tropicália fez questão de mostrar, e com a qual fez questão de dialogar e de se utilizar das suas qualidades pra construir um mosaico incrivelmente rico, onde o pobre daqui é muito diferente do de muitos países, desses que alimentam o ódio social entre classes.. o pobre daqui faz música também, porém com alegria e espontaneidade, que não deve ser renegada.

E é justamente desse Brasil que eu tenho orgulho de dizer que “TÔ FICANDO ATOLADINHA” foi importante para a concepção de Danç-Êh-Sá, disco de Tom Zé, que é tão aclamado pelos “pseudo-pop-cult-intelectuóides”. Essa eles vão ter que engolir!!!

E por isso que eu digo: “don’t call me no, please.. don’t call me no, I go.. come on! come on! Come on! come on!

P.S.: Além de tudo isso, esse post de hoje foi escrito ao som de Creep, do Radiohead. (sincrético pacas, não? hahahaha)

01 fevereiro 2007

Buenas, buenas, buenas, happy, happy, happy!



Saudações efusivas a todos!!!

Como alguns devem ter percebido, este blog andou hibernando durante 1 mês. Mas, agora, a caixinha volta do seu recesso de Verão.

Resolvi, de forma premeditada, não postar nada durante todo o mês de janeiro, por dois motivos:

1) pra ver até onde iria a minha sensação de obrigação de estar aqui postando coisas quase que constantemente pra que as pessoas leiam;

2) a fim de perceber se o blog chega a fazer alguma falta para quem lê.

E cheguei às seguintes conclusões:

R-1) Gosto muito de escrever nesse blog. Sinto-me bem. Considero que seja um lugar onde estou muito adequado. É uma vazão necessária a mim. E mais ainda porque não me sinto OBRIGADO a escrever nele. Passei o mês de janeiro tranqüilo, desobrigado. Só vim pensar mais nele na última semana. Isso é bom. Liberdade, tranqüilidade.

R-2) Ele não faz tanta falta assim para os outros. Apenas umas duas pessoas comentaram que sentiam falta de ler o que eu escrevo.

Mas, sinceramente, vou continuar escrevendo. Sei que tem gente que lê, assim como tem gente que não lê. E graças a Deus que eu não sou nenhuma unanimidade, não pretendo ser uma e sinto-me confortável com o fato de não sê-la. Bem.. é isso.

...

rec beat 2007

Anteontem, o produtor Antônio Gutierrez, o Gutie, anunciou a programação do Rec Beat 2007, a ser realizado no Cais da Alfândega, entre os dias 17 e 20 de fevereiro.

Este ano, em sua 12.ª edição, o festival homenageia o cantor e compositor Chico Science, falecido há 10 anos, completos amanhã, 2 de fevereiro. Nada mais justo prestar tal homenagem àquele que o principal artífice e articulador de todo uma movimentação em torno da revigoração da música contemporânea de Pernambuco. E se temos uma cidade que conseguiu se tornar um grande pólo produtor de cultura popular, pós-moderna e vanguardista, um grande liqüidificador de sons e idéias (apesar de não ainda não possuir subsídios suficientes nem atenção da iniciativa privada para investir em tal potencilialidade), grande parte deve-se a Francisco de Assis França.

O Rec Beat, mais uma vez retoma a linha-mestra que compõe o critério de escolha dos artistas escalados: primou pelo ineditismo e a pela capacidade de reunir em 4 dias atrações das mais diversas vertentes musicais.

É sempre no Rec-Beat que se renova meu instinto de curiosidade em relação ao que se faz de legal no país hoje em dia.

Aí vai a programação:

17/02 [sábado]

19h30 DJ Big & Confluência (PE)
20h30 Erasto Vasconcelos (PE)
21h30 Digital Groove (PE)
22h30 Supergalo (DF)
23h30 Zeferina Bomba (PB)
00h30 Z’Africa Brasil (SP)


18/02 [domingo]

16h30 Concentração do bloco Quanta Ladeira
20h30 Canja Rave (RS)
21h30 Rivotrill (PE)
23h00 Isca de Polícia (SP)
00h15 Digitaria (MG)
01h20 Bonde do Rolê (PR)


19/02 [segunda-feira]

17h00 Recbitinho: Cia Teatro Rasgado “O pequenino grão de areia”
19h30 Mellotrons (PE)
20h30 Vanguart (MT)
21h30 Raies Dança Teatro (SP)
23h00 Mr. Catra (RJ)
00h00 Instituto show Tim Maia Racional (SP)
01h20 Montage (CE)


20/02 [terça-feira]

18h30 Maracatu Nação Cambinda Estrela (PE)
19h30 João do Pife e Banda Dois Irmãos (PE)
20h30 Parafusa & Trombonada (PE)
21h30 Curumin & The Aipins (SP)
23h00 2IN-Par (ESP)
00h00 Macaco Bong (MT)
01h20 Tom Zé (BA)

Ouso aqui, destacar alguns dos artitas que irão se apresentar:

Digital Groove – até que enfim, depois de quase 1 década atuando como coadjuvantes na música pernambucana (participaram da edição 2004 do Rec Beat, com o projeto Refinaria, acompanhados de Silvério Pessoa e Wilson Farias), a dupla Felipe Falcão e Zezão Nóbrega materializam-se como Digital Groove, apresentando show baseado no seu CD de estréia, Rabeca Sanfona e Pife, no qual mesclam a música eletrônica com as intenções e digressões pela música tradicional nordestina.

Zeferina Bomba – os paraibanos que foram destaque do MADA 2003 (mesmo ano de formação da banda) trazem um som incendiário, no qual, através de um violão (simulando uma guitarra), baixo distorcido e bateria, fazem um barulho ensandecido que passeia pelo punk, pós-punk, hardcore, Luiz Gonzaga e Glauber Rocha.

Z’África Brasil – o grupo paulistano, do qual participa Fernandinho Beat Box, traz ao palco do Rec Beat o encontro de duas periferias de tempos distintos e suas identidades musicais: o som africano dos quilombos e o hip hop oriundo das favelas paulistas.

Quanta Ladeira – mais uma vez o bloco composto por Lenine, Lula Queiroga, Silvério Pessoa, Zé da Flauta e convidados se apresenta no Rec Beat com suas paródias divertidíssimas de músicas carnavalescas e de hits do momento. Esse ano promete, o Quanta completa 10 anos de gréia.

Rivotrill – já falei desses moços no post anterior (o último de 2006). O trio de música instrumental formado por Eluizo Jr. (flauta transversal, saxofone e teclados), Rafael Duarte (contrabaixo) e Lucas dos Prazeres (percussão) apresentará o excelente espetáculo Curva de Vento (cujo show de estréia foi na Casa da Maloca, no último dia 19). Excelentes músicos, fantástica performance, incrível manifestação da beleza que a música tem para ofertar.



Isca de Polícia – a banda de apoio que acompanhava o cantor e compositor paulista Itamar Assumpção (falecido em 2003), vem ao Rec Beat, e contará com as participações da cantora Vange Leonel e de Anelise Assumpção (filha de Itamar).

Bonde do Rolê – o trio curitibano agrega em seu som influências de Alice in Chains e AC/DC, aliadas as batidas do funk carioca. É um negócio meio barrufado, caricato, chamou a atenção de muita gente sem ter muito o que mostrar, mas vale a pena ver pela curiosidade de saber como eles funcionam em palco.

Raies Dança Teatro – O Rec Beat repete a dose do ano passado, com apresentações de grupos cênicos (ano passado foi vez do grupo argentino Yunta Taura, apresentando tangos). Dessa vez, com o Raies Dança Teatro, o ritmo é o flamenco.

Instituto – O grupo de produtores paulistano apresenta show baseado no repertório de Tim Maia em sua fase Racional.

Montage – O grupo cearense faz um som bem interessante, que alguém aí já definiu por aí (ô, sempre os rótulos) como sendo “electropunktecnometal”; mas tal rotulação, realmente, é bem condizente com a música do Montage (que se apresentou ano passado, no Abril pro Rock). Algo que vai de Prodigy, passando por Smashing Pumpkins (devido à semelhança de vocais), The Darkness, pelo aspecto andrógino do vocalista Daniel Peixoto, que chama a atenção pelo visual glam.

Curumin & The Aipins – O músico (também cantor, arranjador e multiinstrumentista) Curumin traz o seu som moderno e cheio de groove e balanço ao Rec beat.

Tom Zé – sem comentários, né? Meu avô, no auge dos seus 70 anos, mostrando mais do que nunca que tem vigor, jovialidade e rebeldia para mais 70 vem abalar as estruturas de Recife novamente, fechando o festival, no último show da terça-feira de carnaval.

Agora, meu povo. É só deixar-se levar e curtir intensamente este carnaval de porvir. Foquem atentos também à programação dos demais pólos espalhados pela cidade, que este ano virão com uma das melhores programações dos últimos tempos.

Nas próximas semanas, mais posts boêmios e/ou carnavalescos.

...

E hoje!!! Dia de Fatboy Slim no Marco Zero!!!

Querem saber o que eu acho?

Pois vão ficar querendo..

Só vou emitir minha opinião depois que assistir à sua apresentação, logo mais à noite.

A única coisa que digo é que eu espero que meu corpo conceda a graça de poder dançar tão malemolente e faceiro que nem o Christopher Walken, no clipe Weapon of Choice.



P.S.: Aguardem novidades deste/neste blog..

11 outubro 2006

Parabéns, voinho!!!


“veja que beleza, em diversas cores.. veja que beleza.. em vários sabores, a burrice está na mesa (...)” (Tom Zé)

Tropicalista cuca boa e nova!!!

Salves, salves, salves!!!

Começamos hoje uma quarta-feira muito mais feliz, muito mais interessante para a música brasileira. Hoje, 11 de outubro, é aniversário de 70 anos de Antônio José Santana Martins, ou Tom Zé, como é conhecido no Brasil desde 1968, quando lançou-se de vez no mercado fonográfico brasileiro.

Confesso-me estar um pouco tenso ao escrever alguma coisa sobre este cidadão, uma das maiores (se não a maior) referência musical de criatividade, singularidade, genialidade, inventividade, irreverência, rebeldia e outros adjetivos mais que temos no Brasil. É uma responsabilidade muito grande, e creio também ser muito complexo, conseguir definir da forma mais adequada este baiano de Irará, que conseguiu transformar rapadura, farinha, seca e agrura em matéria-prima substanciosa para uma das músicas mais cosmopolitas e inteligentes de que se tem conhecimento hoje em dia.

Não é todo o dia que um senhor de 70 anos faz uma participação no novo CD do grupo Cake, ou já fez um show com o grupo Tortoise.

Tom Zé foi um dos alicerces fundamentais para o surgimento da Tropicália. Porém, foi ele o mais outsider do grupo. Porém, não no sentido de estar por fora, e sim de estar correndo por fora, por ser ele dotado de uma singularidade tamanha que chegou a ser (e ainda o é) o mais tropicalista de todos, no cerne da rebeldia que aquilo poderia significar, e o menos tropicalista deles, pois optou por seguir o sentido contrário da corrente, que era o da popularização/massificação e facilidade totais; ele seguiu um caminho não percorrido, tornando-se uma bela e inspirada aberração construída e edificada dentro das próprias deficiências (como ele próprio define), transformando-as em grandes idéias, em grandes obras, capazes de sair das amarras de qualquer convenção, conceito e definição, conservando ao longo de todos esses 70 anos um vigor infantil, uma rebeldia adolescente (sempre indignação) e uma sabedoria que a idade e a experiência de vida lhe puderam conferir.

Tom Zé disse que sua primeira experiência musical foi ao tentar tocar violão e cantar para uma moça, ainda em Irará, na juventude. Disse que foi traumatizante. Um bloqueio, uma travação o deixaram totalmente inerte, apático, entalado. Nunca teve beleza, talento para tocar ou voz bonita para ser consagrado como um grande cantor, daqueles que encantam belas moças. Foi daí que partiu para seguir o caminho de desconstruir-se e utilizar com destreza, vontade, inteligência e sensibilidade tudo o que poderia se tornar um obstáculo para seu progresso, usando a seu favor. E me parece que deu certo.

Estreou para o público brasileiro no IV Festival de MPB da TV Record, em 1968, cantando a música campeã São, São Paulo, meu Amor, de sua autoria.

Daí pra frente fez discos memoráveis, como Todos os Olhos (cuja capa era um ânus, com uma bola de gude introduzida, isso em pleno governo Médici, 1973) e Estudando o Samba, em 1976.

Apesar da inconteste genialidade, da metade dos anos 70 até o final dos anos 80, Tom Zé entra para o ostracismo, longo e doloroso, que duraria 17 anos de esquecimento e tristeza, para um artista que sempre viveu do exercitar de sua mente irrequieta (durante esse período, gravou, em 1986, um disco genialíssimo, chamado Nave Maria).

Foi redescoberto, já desenganado e quase que abandonando de vez o ofício, por David Byrne (ex-Talking Heads). É através do selo Luaka Bop, de David Byrne, que é lançado, em 1990, nos E.U.A., The Best of Tom Zé (ou "Tãn Zi", como é chamado lá), uma coletânea de sua obra. A partir daí passou a ser aclamado pela crítica ianque. Inclusive ganha um prêmio chamado “Prêmio de Criatividade”, em Colorado, do qual participam músicos eruditos e/ou de vanguarda do mundo todo.

No ano seguinte, grava o excelente The Hips of Tradition.

Em 1999, é consagrado pelo público brasileiro (e jovem) no Abril pro Rock, onde ele diz ter nascido novamente.

Em 2001, lança Jogos de Armar. Sempre inovando, traz dois CDs, um contendo as músicas, e o outro com fragmentos das músicas, espalhados, separados, sugerindo ao público que remonte esses pedaços e construa novas músicas, podendo se tornar, assim, um parceiro de Tom Zé.

Em 2002, três anos depois de ter renascido, no mesmo Abril pro Rock ele quase morre, ao ter um infarto após o seu show (eu estava presente nessa apresentação). Tom Zé passou em torno de uma semana internado em Recife, no Hospital Real Português.

Ano passado lançou o fantástico disco Estudando o Pagode – na Opereta Segregamulher e Amor, no qual faz uma interessante analogia entre a segregação cultural e social da mulher e a segregação de ritmos como o pagode.

Hoje, dia do seu aniversário, lança mais um disco (já estou doidinho pra ouvir), que se chama Danç-Êh-Sá – Dança dos Herdeiros do Sacrifício. Pelo que li no JC hoje, mais um trabalho conceitual, baseado na idéia da omissão dos intelectuais diante da política brasileira, da rejeição dos jovens por músicas de letras longas, e estabelecendo um diálogo com o passado e com o folclore. Palavras do "DJ Tão Zé" (como já se pode ver em foto no seu site, entremeado por fios, elementos de discotecagem – como um vinil - e colorido: “Esse disco tem três ou quatro influências. Uma delas foi o silêncio dos intelectuais diante do abismo causado pela decepção com a esquerda política. Outra influência foi uma pesquisa feita pela MTV que mostrou que os jovens não gostam de músicas com letras longas. O dicionário faliu, e as palavras não falam nada. Em função disso, eu decidi fazer um disco cheio de tartamudeios. É uma maneira de tentar chegar até eles. É um jeito de dizer para eles que o mundo é uma coisa de nossa responsabilidade. Peço que eles abandonem essa posição de irresponsabilidade. Ele é ousado, mas dialoga com o passado. Tudo que faço faz referência ao folclore e à música brasileira. Usei nas faixas células e ambientes musicais dos anos 40”.

Isto é Tom Zé. Será que ele chega aos 140?
















(ouvindo Ave Dor Maria, by Tom Zé)

12 julho 2006

a totalidade veio do nada




Essa é uma interessante frase que li numa das tantas magníficas elucubrações do compositor baiano Tom Zé, em seu livro Tropicalista Lenta Luta. Leiam. E ouçam Tom Zé também.

...

Ela me disse que ficou feliz ao falar comigo. Eu, em devaneios mil, fico feliz e fico triste, sem saber se isso é bom ou ruim. eu quero lê-la, por dentro e por fora.. saber se sou verso que se encontra lá, por dentro.


...

Olívia nasceu! Boas vindas a ela.. Filha de uma linda cabocla, chamada Priscila, a pequena menina (que eu tive a honra de escolher o nome.. ATENÇÃO: eu não sou pai) veio ao mundo e deu seu primeiro berro de vida no dia 10 de julho. É uma das coisas mais lindas do mundo você observar um bebê dormindo. Ela, bocejando, mexendo as mãozinhas, de olhos fechados, e, vez por outra, tentando abri-los. Desejo a ela boa sorte quando abrir os olhos, pois ela passará a ver um mundo que não anda muito bem das pernas. Desejo a ela muita poesia na vida.

Falando em poesia, essa é recém-nascida (como Olívia). Ganhou forma há poucos minutos:


SER O QUE SE CRIA

seria necessário
alinhavar-se
nos gestos
e a cada disfunção do cotidiano
, que lhe era possível
internalizar;

assim como rir de cada besta fera,
cuidadosamente recolocada
nas mesmas reentrâncias
do seu mesmo sorriso frio
, entreaberto
levando poeira,
e engolindo as palavras a seco,
ressequindo a cada dia;

era uma volúpia inexplicável,
era uma angústia infinda,
eram cálculos binários
& dízimas sem rimas,
mas no final das contas
, e no fim de tudo,
tudo era poesia.