23 dezembro 2006

música, jazz e pop-filosofia



Como é orgasmático o sexo entre a música e a poesia. Provam, se lambuzam, se deleitam desse tesão os que tem ousadia de se permitirem essa lascívia, além de também se respigarem desse gozo por todos os poros da alma e do coração. É o caso de Jomard Muniz de Britto e a Comuna.

No site www.mp3magazine.com.br foi lançado o disco JMB em Comuna, parceria coesa, estimulante, provocadora e também inquietante entre a poesia de Jomard e a música dos integrantes da Comuna (ex-Experimental). Não há como sair ileso das sensações (boas ou ruins) que o disco pode causar.

São 10 faixas em que os “atentados poéticos” de Jomard entram em consonância com as dissonâncias da música densa e de incômoda profundidade da Comuna.

A Comuna, composta por Ricardo Maia Jr., que produziu o disco, Glauco Segundo, Bruno Freire e Amaro Mendonça, concebeu as faixas de duas formas: procurando encaixar composições musicais já existentes aos atentados poéticos de Jomard, percebendo (trabalho que denota uma sensibilidade aguçada) o que mais aproximava uma ponta da outra (música e poesia), provocando, então, a osmose. E a segunda forma foi criando improvisos em cima dos poemas de Jomard.

Um casamento perfeito entre a poesia caótica, pop-filosófica de Jomard Muniz de Britto, um verdadeiro emaranhado de “pós-tudos”, contradicções, onde tudo percorre linhas tênues entre o entendimento e a semântica de uma coisa e outra, onde uma coisa e outra se percorrem: a música, o cinema, a metalinguagem, a psicanálise, a política, o cotidiano, e tudo o mais que possibilite tangenciar o extremo absurdo mergulhado na mais absoluta razão, com doses intencionais de uma ironia “tropicalisticamente” correta, e a música intimista, reflexiva e, repito, inquietante da Comuna, repleta de texturas, de momentos brancos e negros, profundamente forte na sua intenção e reação.

No site, todas as faixas estão disponíveis para download, além de uma matéria sobre a feitura do disco e uma entrevista exclusiva com Jomard Muniz de Britto, que comenta sobre sua obra e, mais especificamente, sobre esse trabalho em parceria com a Comuna.

Esse que vos fala também participa virtualmente do trabalho, com sua percussão nervosa (nesse caso, nem tão nervosa assim) em 4 das faixas que compõem o disco.

Cuidado para não perder o fio da meada das palavras de Jomard, entremeadas pelos acordes da Comuna.

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Outra dica para se ouvir e sentir é o som do Rivotrill.



Composto por Rafael Duarte (contrabaixo), Eluizo Júnior (flauta transversal, sax e teclado) e Lucas dos Prazeres (percussão), o Rivotrill tem 1 ano de vida e tem como mote “fazer música instrumental com bom humor e qualidade”. A partir das influências dos três jovens músicos (26, 22 e 21 anos), enovelam-se de forma coesa e belamente emotiva elementos que vão da mais alta liberdade jazzística, trafegando pelo latino, regional, pitadas de algo árabe rondando, tudo isso composto a partir do “triálogo” entre a esperteza e sagacidade da flauta de Eluizo, da instigação percussiva de Lucas e da precisão, leveza e balanço do contrabaixo de Rafael.

Ao se ouvir o Rivotrill, percebe-se ali uma profusão de sons, que permitem a quem ouve viajar pelos mais diversos ambientes, sem se perder da condução e do destino a que essas músicas se arvoram, que é produzir um estado de intenso bem estar. É como se cada compasso fosse composto de tons diferentes, de cores que se alternam em seu sentido e em sua amplidão, em sua possibilidade de se misturarem numa fração de segundos; um degradê tão sutil de intenções, de tempos, de pegadas, de ritmos, que nos põe a respirar diferente a cada momento da música, que nos faz sentir instigações e profunda letargia a cada instante ou ao mesmo instante de cada uma das músicas.

Acredito que essa sensação seja mais propícia e mais acertada ainda pelo fato de eles produzirem música instrumental, que necessita uma maior atenção do ouvinte, ao mesmo tempo que também tem um quê de liberdade grandiosa, seja pela formação musical dos meninos como pelas possibilidades que a música que eles optaram por fazer permite.

Pra quem não conhece ainda, recomendo ver, ouvir, prestigiar, viajar. O trio está preparando o seu primeiro espetáculo, intitulado Curva de Vento. Fiquem atentos!

Na rede estão disponíveis:

Comunidade no orkut -
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=25314371
no site RecifeBlues (onde você pode encontrar mp3 e vídeos da banda) - http://www.recifeblues.com.br/bandas.rivotrill.html
no site da Trama Virtual -
http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=59204

Um grande abraço a todos e um fim de semana musical e poético.

Um comentário:

Anônimo disse...

Leo é sagaz demais quando fala de música! Parabéns pelo texto velho!

Rivotrill é isso mesmo, vindo de um músico como vc só não escuta quem é doido!

Abraço!