08 agosto 2006

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..





É com essa frase que faço a minha homenagem ao cantor, compositor e pensador crítico contemporâneo Caetano Emanuel Viana Teles Velloso, ou Caetano Veloso, para os mais íntimos (no caso, o Brasil inteiro), que ontem (07 de agosto) completou 64 anos de vida. O leonino, nascido em Santo Amaro da Purificação (cidade pertencente ao Recôncavo Baiano) prepara-se para lançar mais um novo CD, intitulado , produzido pelo filho Moreno Veloso e pelo guitarrista Pedro Sá.

Caetano é daqueles que ou se ama ou se odeia (eu me enquadro na primeira opção). Tudo isso por causa do seu comportamento e opiniões críticas imprevisíveis (e nem sempre palatáveis) a respeito dos mais diversos assuntos: cultura, música, filosofia, política, etc. Por nem sempre estar alinhado com o lugar comum do que instituem os grandes “intelectuais” como, razoavelmente, ponderado e coerente com o que “deveria” pensar um intelectual residente num país de 3.º mundo, assim provocando (conscientemente ou não) polêmicas e, logo após, as diluindo no tempo e no espaço, é que Caetano foi ganhando seguidores e inimigos (confessos ou não) ao longo de 4 décadas de carreira. Caetano surpreende (não sei se hoje nem tanto, pois creio que todos já se acostumaram) quando diz gostar do grupo Nação Zumbi da mesma forma como também elogia o grupo de “pagodaxé” Harmonia do Samba.

Caetano, junto a tantos, como Gilberto Gil, Tom Zé, Os Mutantes, Gal Costa, Rogério Duprat, Júlio Medaglia, Capinam, Torquato Neto, Jomard Muniz de Britto, Aristides Guimarães, Raul Córdula, Celso Marconi, etc, etc, etc, foi um dos artífices de um movimento musical, cultural, comportamental que sacudiu o final dos anos 60 e que colocou o Brasil diante das inúmeras possibilidades de “deglutição e reprocessamento” (adotando aqui um termo apropriado para a questão antropofágica) de seus vários “brasis”. Movimento esse que andou na contramão de tudo o que se fazia na época como movimento musical bem alimentado e bem nutrido intelectualmente e de forma engajada em relação ao regime ditatorial que vivia o país (o referencial na época eram as músicas de protestos, produzidas por artistas de esquerda, alinhados com a juventude “universotária” paulista), ao assimilar guitarras elétricas, sintetizadores, músicas de alto teor visual às batidas dos pandeiros, berimbaus, unindo o samba ao rock’n’roll, os Beatles à Banda de Pífanos de Caruaru, o que possibilitou uma reavaliação e abertura maior de possibilidades à música brasileira que passou a ser feita a partir daí. Por causa de todo esse rebuliço, ele e Gil foram “gentilmente convidados a darem o fora do país”, indo viver um Londres, num exílio que durou em torno de 2 anos. Desde antes daí, também após voltar da Inglaterra, como até hoje, Caetano vem mantendo embate frenético com crítica e público. Diante disso, entra e sai de todas as estruturas, de peito aberto, alma de artista, dando a cara pra bater e devolvendo o tapa sempre que acha necessário. Vai do rock’n’roll reprocessado (Come as You Are) à música brega (Você não me ensinou a te esquecer) como quem vai na esquina, comprar pão, e volta tranqüilo e sorridente pra casa.

Mesmo assim, despertando ódio de tantos, é inegável a importância desse homem para a nossa cultura. É justamente através suas “contradicções” (parafraseando o mestre Jomard Muniz de Britto) que Caetano alimenta o jogo das dialéticas, introjeta veneno nas veias onde só corre um leite manso, sacoleja a cabeça de tantos, seja para concordar como para fazer pensar nas suas opiniões, criticando-as.

É por essas e outras que Caetano Veloso é capa da Revista Cult desse mês. Numa entrevista que está disponível na Internet (segue o link abaixo), ele fala sobre racismo, Estados Unidos, “antiamericanismo”, crítica, intelecutalidade, literatura, entre outras amenidades.

Encerro essa “ODE” a Caetano Veloso com uma frase dita por ele nessa entrevista e com a qual concordo completamente:

“Já escrevi, e reafirmo agora, que o Brasil precisa tornar-se o mais diferente possível de si mesmo para poder se encontrar.”

Link da entrevista:
http://revistacult.uol.com.br/website/entrevista.asp?edtCode=5CE31EF8-D245-4ACF-8449-9F6C2C3ECC1F&nwsCode=DC91FA2E-0294-4245-9EC0-8D11CE37657A

(ouvindo Pássaro Proibido – by Doces Bárbaros)

Um comentário:

Anônimo disse...

Ou se ama ou se odeia???
Como vira e mexe eu e vc sempre paramos aqui em Caetano,o amor se despertado em mim,será mais um amor por culpa tua[como Nando Reis]..hehe
Beijo grande!