20 setembro 2006

Faça!































De acordo com o dicionário Houaiss:

fazer
acepções:

■ verbo 1 produzir através de determinada ação; realizar, obrar transitivo direto

(...)

2 realizar (algo abstrato) transitivo direto e bitransitivo

(...)


Esses são apenas dois significados que a palavra fazer simboliza. Entre tantas outras acepções descritas nos dicionários da vida, gostaria eu de ousar dizer o que vem a ser, de acordo com o que o penso, o sentido de fazer.

O ato de fazer algo não implica necessariamente, e no(s) sentido(s) estrito(s), apenas a ação em si e por si só.

Fazer envolve escolhas, reflexões ou impulsividade, consciência ou pleno desconhecimento, vontade própria ou obrigação, cálculo prévio ou riscos incalculados, mobilização ou acaso, motivação, algumas vezes ousadia e rebeldia, segurança e insegurança, paixão, controle absoluto e descontrole total, necessidade ou capricho, condições favoráveis de atuação, apoio ou desaprovação, etc e tal.

Ou seja, o ato de realizar algo, um gesto, uma escolha, uma atitude, um empreendimento envolve uma série de fatores, muito harmônicos e tantos outros díspares, que se confrontam antes, durante e depois do fazer em si. Fazer algo envolve, algumas vezes, o simples desejo de fazê-lo, de colocar em prática, de realizar uma vontade. Porém, também envolve uma vastidão de conflitos e questionamentos, pelo simples fato de que um simples fazer algo pode nos afetar a vida (em vários âmbitos) e a vida de tantos outros.

O ideal seria que, no mínimo, nós soubéssemos equilibrar a razão e a emoção no momento de uma escolha. Porém, seres humanos imperfeitos que somos, sempre pendemos parcialmente ou totalmente para um único lado. Não sei se isso é bom ou ruim. Bom pelo fato de que acaba nos ensinando a exercitar a nossa capacidade de empreendimento e posterior reflexão acerca das vantagens e desvantagens que aquela atitude acarretou, e de poder, então, buscando o equilíbrio, saber dosar as quantidades de amor e de razão que devem conter cada passo. E ruim pelo fato de que esse aprendizado nem sempre é absorvido de forma agradável. Muitas vezes (e na maioria dela) envolve grande sofrimento, dor e cobranças, tanto suas quanto, principalmente, dos que o cercam.

Há coisas que quero fazer.
Há coisas que dizem que eu devo fazer.
Há coisas que preciso fazer.
Há coisas que amo fazer.

Eu tenho o defeito (ou a virtude) de sempre pender para o lado do amor. Faço as coisas que me apaixonam, que me movem, que me dão sentido, realização e existência nesse mundo. E é justamente por isso que ando tendo uma série de crises, de conflitos, de angústias nos últimos tempos.

Ter feito jornalismo = profissão convencional, “rentável” (isso no pensamento de nossos pais, que acreditam que o cara se forma e vai direto pra Rede Globo, apresentar o Jornal Nacional). Temos que ter um diploma, né? Essa é uma obrigação e uma prestação de contas que devemos dar aos nossos educadores, nossos formadores e à nossa sociedade, tão vil, hipócrita e desrespeitosa com a nossa condição humana.

Fazer um mestrado = ampliação do meu campo de conhecimento. Aprender, conhecer, saber, pesquisar. Isso me interessa. Isso me faz bem. Porém, dentro dessa realidade: aprender mais. Muitas vezes levam para a melhoria das possibilidades de engendrar no mercado de trabalho (o acadêmico, no caso).

Ter que fazer um concurso público = ganhar dinheiro. Necessidade de sobrevivência. Sustento. Única e exclusivamente. É preciso (?).

Música = necessidade para a vida. Alimento. Alma. Dança cósmica. Felicidade. Prazer. Realização como ser humano. É isso que quero, que preciso, que amo. Porém, qual o respaldo que nossa família dá? Digo família de classe média-média, provinciana, machista, que tem uma “ovelha negra” entre si; família que se interessa e acredita ser apenas o essencial dar “casa, comida e plano de saúde” para os seus, e quer perpetuar essa pensamento pequeno-burguês por tantas outras gerações, não se importando com a real necessidade que este seu precisa para ter alegria de viver. Não digo a família classe média altíssima, que dá todos os subsídios para que os seus vivam de música sem se preocupar com cobranças ou com um futuro amargo.

Escrita = é o mesmo caso que a música. Só que ainda num campo mais restrito de ampliação da sua possibilidade de gerar ganhos com essa atividade. Mas me alimenta com a mesma intensidade que a música. É através dela que atravesso-me por completo, deixando vestígios indeléveis desse mundo em mim, e de mim no mundo, tocando, pesando a mão e o poder da alma e do coração no meu próprio pensamento e no de tantos outros. O poder da linguagem é o que nos (in)traduz nesse mundo tão estranho.

Abrir a guarda pelo sentimento que nutre por uma mulher = nesse caso, é um dos mais complicados “fazeres”, pois você se deixa levar ingenuamente pela possibilidade de que um dia essa relação seja recíproca, de que te trará felicidade. Quase nunca é assim, e você se fere, se deixa ficar ridículo, idiota, imbecil, fraco. Seria muito mais fácil que sentimentos tivessem bula, tudo escrito e descrito. Mas quem disse que sentir é fácil? E fico triste.

Morar só = as coisas se encaminham inevitavelmente dessa forma. Como ter condições psicológicas, emocionais, financeiras para isso quando você se recusou a fazer tudo o que lhe daria retorno financeiro para arriscar-se na vida a querer e tentar fazer o que te move, o que te alimenta de amor e felicidade?

Afinal, fazer também é se arriscar.
Viver é se arriscar. E eu prefiro fazer isso com amor.


(ouvindo Quilombo/Tiro de Misericórdia/Escadas da Penha – by Acústico MTV João Bosco)

2 comentários:

Anônimo disse...

Ola meu caro amigo!!! Nao podia deixar de ler, e como sempre eu me admiro com sua forma de ver as coisas, o seu jeito de transmiti-las. Beijos da amiga (Lua)

Anônimo disse...

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um grande amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fieldade - para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Vinicius...
Beijos leozitcho!
Karoline Fernandes